Nos calendários a culpa nem cabe mais. A urdidura dos confrontos de eliminação foi esvaindo num desaparecer contínuo, moderado, atrapalhado, constante, e finito, com os dias todos que a gente tinha. O amontoado dos enfrentamentos fez da bola um mistério geométrico: ela não tem a mesma redondeza pra todos
Já acabou o tempo em que a copa dos pardos era o charme dos charmes, a belezura das belezuras, a cantada das cantadas, o rabo de saia infernal dos coitados casamenteiros... Os esquadrões, no antes, abandonavam suas casas pra uma pelada de explorações territoriais, e iam com suas bandeirolas e assovios de remexer as pupilas dos olhos, fazer peladonas, peladices, peladares, nuezas, pelar enfim, uns arrepios de eriçamentos em locais de maiores esconderijos... Baita meio do centro! Eitá os diachos do norte! Tchê as azuis do sul! Arre as curvas do nordeste! Aff o perigo misto do sudeste
A festança que havia no passado foi sendo dissimulada pelas regras dos certames mais modernosos. Fizeram uma barreira na porta de entrada, e nem todo mundo pode comprar ingresso: os melhores times do baronil desse rincão são os libertadores que sofrem as altitudes e os labirintos portenhos do castelhano. E com essa segregação supostamente premiada, sobram os medianos aspirantes a libertadores.
Nesse ano de graça 2006, os cariocas do bufão, bufante, bufando Nelson Rodrigues, chegaram às intensidades finais contra os pães de queijo das minas gerais, e o viuvismo praieiro do litoral paulistano, numa tabela de favoritismo e certa facilidade. Flamengo, Vasco, Fluminense e Voltaço são os franco-atiradores das quartas-de-final da peleja! Versus Santos, Cruzeiro, Atlético-MG e Ipatinga, os abençoados por Cristo e amaldiçoados pelo bafo alcoolizado do gladiador das arquibancadas do Maracanã, que será eternamente o castigador de toda e qualquer nudez, podem reinar sozinhos numa final caseira, sem aventuras extraconjugais...
É de lamento a ausência dos barbudos São Paulo, Palmeiras, Internacional, Corinthians e Goiás. Além do recém desvirginado Paulista, que tanto não pôde defender seu escudo em território nacional quanto provou do beijo ácido e eliminativo da desilusão amorosa de relacionamentos internacionais.
A luxúria indígena e a gana por conhecer cheiros diversos deveriam de ser revista nos regulamentares das leis da copa dos pardos! Sem exclusões, as danças ficam mais quentes, e os calores entram em ebulição de fervores! O gladiador das gerais cariocas, até que pode, porventura de mordiscamento labial, cozinhar no caldeirão de seus pecados algum assanhamento mais descontrolado de glórias e conquistas, mas o entretanto do contudo, está justamente no tesão de ser pego em flagra, com as mãos e os pés num êxtase descontrolado de alegrias, no abocanhar de várias taças!
MATA!MATA!: são figos entre os dedos. Mas no aperto do afunilamento, os três gigantes do Rio de Janeiro devem ter as honrarias de apresentar os holofotes para o pequenininho e encapetado caipira mineiro. O uai sô da safadeza boba do Ipatingão, se não for assassinada nos conformes da urgência, renderá histórias e causos de pertinhos quilométricos pras enciclopédias do futuro!...
Enviado por Rufus Melancólico