Ei, você está fora da caverna? O danado do Platão quando nos propõe o mito não explica como o primeiro homem sai da caverna. Pede-nos, lépido e faceiro, que imaginemos que um dos vários homens, agrilhoados desde a infância nas sombras da caverna, a deixe. Como bons e respeitosos leitores, ávidos pelo desenrolar da história, atendemos ao pedido. O tal homem deixa a caverna, temos olhos ofuscados pela luz do sol e contempla, pela primeira vez, as coisas tais como verdadeiramente são. E não é pela sua vontade que retorna à caverna; pois, Platão nos faz um novo pedido: pede-nos justamente para que imaginemos esse retorno. Então o vemos atordoado, agora, pelas trevas, novamente a elas habituando seu olhar e contando aos seus antigos companheiros suas descobertas. Desacreditado pelos seus iguais, que julgam falsos seus relatos, é até mesmo ameaçado com a morte, caso lhe ocorra a idéia de tentar libertá-los dos grilhões. Após inúmeros comentadores, notas de rodapé, releituras e aproximações elaboradas sobre a alegoria da caverna, a pergunta que me corrói é pelo índice que determina se um homem está, de fato, fora da caverna ou se ainda contempla sombras e falsidades. Sim, Platão de certa forma nos responde. O homem sábio, o filósofo, sabe que está fora da caverna. Mas, qual a medida da sabedoria? A transcendência, o mundo das idéias? A formação ideal do cidadão? Mas, e se no meu mundo não couber transcendências? E se não me for facultada a formação ideal? Infelizmente não posso me valer de uma pílula que assegure o lugar exato das minhas reflexões: se emitidas ainda da caverna ou se já moram na verdade. Também não conto com um Deus não enganador que certifique a verdade clara e distinta das minhas considerações. Vivo em um mundo sem metafísica. QUERO O ABSOLUTO DE VOLTA! Mentira minha!!! Justifico-vos meu fortuito e já perdido desejo: a angústia do devir é dolorosa. Talvez meu corpo e minha mente repousassem se Alberto os tivesse conseguido convencer de que há metafísica bastante em não pensar em nada.