domingo, agosto 27, 2006

Vaso

Vaso da porra!... Ele falou comigo... Maldito... Me contou uma história que eu não queria ouvir... Berrava que era uma imitação barata de merda, mas mesmo assim lindo... e era lindo o danado... Contou-me aquela velha história, confome a qual ilustrava a cultura de um povo dizimado pelo homem branco colonizador... E eu lá vou me interessar pela história alheia? Por uma identidade que não é minha... Eu sei, eu sei... na verdade a história não é alheia e a porra da identidade também é minha... Mas, não quero ouvir... não quero pensar... quero apenas sentir... quero chorar e doer... quero um corpo doído, que sangra e fede sem cessar... quero a angústia do sentir e não a do pensar... quero as grandes questões ao mar e as tradições de pensamento na sarjeta, recebendo as lambidas de um cão impregnado de sarna, fétido de doenças, tomado pela tosse e pelo pigarro... quero sentir o pior escarro, o desdém de todos, o nojo dos homens pela minha cama, a repulsa das mulheres pela minha companhia... quero o fio cego de um caco de vidro cortando minha carne vagarosamente, fazendo-a arder de cansaço e fadiga, arrancando-lhe a vida e o ânimo... aí, sim, quem sabe, poderei, mais adequadamente e de fato preparada para entender, ouvir a história da porra do vaso bonito, ganhado como presente e feito mimo de surperstição...

Miranda Belvedere

terça-feira, agosto 22, 2006

Sobre o nada... Parte 3

Discursos... Cada um tem o seu. Acredita piamente nele. Defende-o com unhas e dentes...

E tudo isso... Pra quê?

Cada discurso é uma arma do medo ou melhor, uma armadura dele. E quando ela não basta, tem um escudo ao lado para ajudar. O pastor com a sua bíblia, o político e suas leis, o jornalista e seu microfone...
O que é o pastor sem o seu livro? Um homem, como outro qualquer. Um homem com todas as suas qualidades e defeitos, mas um homem. Mas a roupa empolada, o palavreado político, o discurso para a massa, são proteções para que ele sinta força, perca o medo, e esqueça quem é: simplesmente um ser humano com medo. Medo de morrer. Mas lá na frente não, ele é mais que isso... É um super homem, com sua capa, seu discurso, palavras fortes e um Deus por detrás.

O político? Este tem como nobre missão representar milhares, quiçá milhões. Seu discurso é empolado, o palavreado motivador, o discurso para a massa... Lembra o pastor, não é mesmo? Mas este, após as eleições, se justifica com outras leis. Mas também é um super homem. Com sua capa, seu discursos, palavras fortes e a Lei por detrás.

O jornalista segue com sua roupa rota, seu carro roto, e vai para a sua redação, seu trabalho. Porém, é o dono da comunicação. É dele, ou supostamente dele, a responsabilidade do informar, do saber. Vai, Clark Kent! Das suas mãos saem todas as informações e por isso adquire super poderes. Sente-se e auto-denomina-se "quarto poder". Quarto Poder! Manda e desmanda, dá ordens, tem até o poder de publicar o que quiser, quando quiser. Mas por detrás... Tem quem realmente comanda. A elite.

No discurso, certezas. Tanto esforço para lutar e não mostrar o que realmente é!

domingo, agosto 13, 2006

Olhos negros


Olhos negros e sem expressão... Noite após noite, seu corpo se pôs em cima do meu, mexeu junto com o meu, interligado ao meu. Em cada uma dessas noites beijei e suguei com afinco e dedicação seus lábios, sempre de olhos abertos, para não desviar os meus do dele e nada vislumbrei. Eram olhos opacos, sem mensagens escondidas. Olhos de quem nada procura. Olhos de quem já não espera mais... olhos fixos em lugar nenhum, incapazes de expressar perplexidade, admiração ou paixão... enquanto seu corpo parecia devorar com pressa redobrada toda a extensão da minha pele branca e frágil, seu olhos não diziam nada... ainda que seu corpo se apropriasse da minha carne, dizendo-lhe que meu sangue o apetecia, que meu cheiro o estimulava e que era o meu ânimo que ele queria domar, os olhos permaneciam distantes, quase imaculados, quase límpidos; mas, mesmo a lacuna para a qual eles apontavam não levavam a universo nenhum, a emoção nenhuma; apenas ao mergulho profundo em um mundo de olhos negros, sem fim, sem limites, sem fronteiras, sem amor e de libido mecânica...


Miranda Belvedere

terça-feira, agosto 08, 2006

Duas rosas

Se entrelaçaram num jardim. Poderia ser piegas, se não fosse a minha história.

Luto diariamente pela não repetição dos atos, pela unicidade de cada momento, por tornar cada segundo especial. Por ser alguém especial, único, e refletir o que de fato é. Todo ser humano é uma combinação sem igual de laços, de desejos, desilusões, alegrias, confusões... Linhas únicas estão em cada mão, em cada olhar, em cada palma... Inacreditávelmente verdadeiro. Por que as vezes a banallidade toma a alma e vou contra o óbvio, o que cada centímetro do meu corpo comprova nitidamente...

Não poderia estar sozinha nesta luta. E de fato, não estava.

Postado por Jussara Justa

sábado, agosto 05, 2006

Nos 30


É difícil saber como se é ter 30 anos. Eu não sei. Ainda me sinto de jovem, sou jovem, mas não penso que esta energia vai acabar assim, de repente.

Hoje vi uma garota na rua. Olhei e pensei: Meu Deus, é a Janaina! Opa, mas... Se fosse a Janaína... Teria uns 30, como eu... Deleta. Essa daí deve ter 21, 22...

Nunca pensei que passaria por isso, enredada pelos contos virei Peter Pan. Recuso-me a crescer, a perder essa juventude...

Mais do que pular para a fase adulta, recuso-me a ver a realidade. Dura, cruel, mais do que pensava. Tenho saúde e não vou morrer de tuberculose, meu sonho romântico. Mas estou bem e vendo saúde, e vivo para ver amigos geniais trabalhando como garis, vendedores, ao lado de canalhas inescrupulosos que vencem como advogados, jornalistas, médicos, delegados...

Vejo e sigo. E aprendo a ser "maleável", justa quando devo. Viver é mais difícil do que capricorniamente previ.

Postado por Jussara Justa