quarta-feira, maio 31, 2006

A PELOTA in CxD

A morte é uma ruína de lábios carnudos.

E é da transa fatal entre os grupos C e D que nascerá em solo trágico aquela da boca vermelha, a do vestido curto ou longo de cor finita, a de traços simétricos ou assimétricos, a da face friamente impávida, a da fotografia vertiginosa, a dos olhos desenhados a pinça, as pernas de tornes, os braços de passeios perigosos, a feminina, a do corpo curvo, a curvilínea... O horror de destinos incompletos!

Sérvia e Montenegro são dois países (des) unidos em um.

Maculados por tanques e guerras, os sérvios e os montenegrinos destruíram seu respectivo passado iugoslavo num plebiscito tão catártico quanto do infelizmente. A utopia política do Leste caiu no colo triste do talento habilidoso dos quase sem nação, dos que quase sobrevivem a ermo... E quando o fôlego definitivo for soprado dos pulmões sem culpa, mas fatídico árbitro incôngruo, a seleção dos fortes de bochechas brancas e avermelhadas e da terra de todos e de ninguém, será o que sobrar da memória.

Ao mesmo tempo, os elefantes da Costa do Marfim, os marfíneos, entrarão com seus diamantes negros na saleta esverdeada e rara dos campos mundiais da Alemanha; o exotismo de seus reluzires castos irão de encontro ao diabólico divino da tradição hermana-holandesa das dores eternas e eternos odores de tempos de outrora.

Elixir da derrota, morte da vida, erro esquerdo da finta... Tudo isso faz presença no quadrante C! Argentina e Holanda, em histórias de ires e vires cruzarão uma vez mais suas calúnias num joguete sorteado do destino. Porque na disputa ferrenha de uma das duas vagas de vanguarda do seguir-se em frente, o giro hipnotizante dos saiotes neerlandeses enquanto do tango bravo portenho na vitrola da moeda de ouro, vai no convés do transatlântico de negociações esquivas do passado de colonização e esquartejamento: ambas portentosas, ambas lacrimosas...

Um soco de lembrança histórica!

No entanto, do lado oposto, no cruzar de dados, no conjunto D, o melancolismo de olhos desiludidos na antevéspera de confrontos fadados ao fracasso, ou a máxima do fardo de fados... Namoradores da desilusão... Aficionados por perdas... Encantados por cantos e trovas de agouro...

O nariz asiático do Irã com sua bagagem religiosa oriental ortodoxa no fio da navalha de gatilhos e estiletes de explosivos, bombas, morteiros, e nucleares. O ódio saltando pelas costeletas. A ausência de amigos numa terra onde é a zebra do patinho feio. Os pelejadores iranianos fazem parte da decantação do roteiro. Cultura coberta por lençóis, futebol descoberto por limitações...

Da América do Norte, o cabeça-chapeleiro: o país mais próximo do céu, e tão perto dos estadunidenses... O México vêm com dedos trapaceiros nos pés, mais surrupiador do que nunca dantes. Elenco trabalhoso e dificultoso. Com objetivos firmes e focados, tão ou mais que a recuperação fronteiriça realizada no diariamente de confrontos texanos.

Porém os males e idos são portugueses! A Lusitânia outrora dona do mundo, numa época em que o mundo era plano, calhou de encarar de estréia, no princípio do bico, um dos rostos de suas inúmeras sangrias: a dona Angola, o cú de Judas. Portugal tem no comando, no leme do barco sebastiano, um franco-atirador dos pampas, e nas espáduas deste comandante tentará lançar mão de seus fantasmas agrícolas e escravocratas. Mas da coxa africana, os angolanos reconhecem sua virgindade. E por isso, como casamenteiras, jura contorcionismos para evitar os estufares... Das redes, dos gols, das traves, dos barbantes!... E por daí adiante ser de vez por todas independente de suas eriçadas particularidades.

C e D: serão frios e cruéis assassinatos, donde duas mortes restarão para assombrar os outros talentosos dos mares!

Enviado por Rufus Melancólico