quarta-feira, maio 17, 2006

A PELOTA in Barcelona Fica Em Paris!

Per specullum!

C´est tout: the rose, el globo, la rosa, the globe.

Teatro mágico contra moinho fantástico. O palco gris da cidade luz, soçobrou-se das tradicionais cortinas e tablaturas, para fazer dos tons esverdeados um tapete recordativo. O episódico ato final: emblemático, quixotesco-fasto, dramático.

Barcelona é um país. Arsenal é uma tradição.

O Barça é o melhor clube de futebol do mundo na ampulheta atual. E é.

Pelas artérias, a tarde parisiense desta quarta-feira, marcou-se pela tenacidade duma quase tragédia shakesperiana. O calculista e mortal xadrez londrino do Arsenal movimentava suas peças, seus bispos, seus cavalos, seus reis, suas rainhas numa frigidez teatral. Franco azarão de uma solidez defensiva invejável, a equipe cosmopolita inglesa fez dois sustos, perdeu a parede num cartão vermelho, tomou sufoco com a ponta do dedo e a bola no poste, construiu um muro de reboteios, e marcou um grito de gol na testa da rede, na múmia da zaga catalã! O primeiro tempo era um crítico chá da cinco adiantado...

Depois dos quinze minutos de encaramento do vácuo, de contemplação do vazio, de flutuações levitantes do sonho da imortalidade, a chuva, o aguaceiro, o torrencial, a tempestade!


Cercado por talentos de todos os lados, rodeado por habilidade de todas as pontas, lapidado por uma babel de todos os cantos, o Barcelona resolveu que ficaria em Paris! Cravado o impulso propulsor imbatível, inderrotável, irrepreensível, insuflado, o vigor foi ao ataque: com bicos, pauladas, petardos, batidas, pancadas, boladas... Quanto mais o tempo corria, mais água caía... O silêncio de um estádio em estado de calamidade. A pressão das veias em pulsão suicida. O olho marejado pelo desencanto de uma ilusão. A nudez da lágrima escorrendo na quietude. O caminho luminoso...

No futebol, no mais rude e cruel dos esportes, quando se perde, perdem-se todos; quando se ganha, ganham-se quase todos...

Os espaços na modernidade das táticas e técnicas do penoso bretão são escassos. A minimitude de detalhes da força de um gesto, ou do encaracolar de um passe, é o saboroso tempero do prato de um título, de uma conquista, de um campeonato. O caminho luminoso... Dois lançamentos escorregadios enquanto a redondeza girava feito pião, feito balão, feito coração... Tento! Tento!

E o Barça sagra-se vencedor vitorioso de uma virada rara!

A Copa dos Campeões da Europa confirma sua cinematografia. A música de câmara, a cor das luzes, o close heróico, a seqüência ativa, o lamento das emoções, a história!... Tudo que é sólido desmancha no ar, mas o futebol é gás!


Enviado por Rufus Melancólico