“Quando eu faço café eu faço café, quando eu faço chá, eu faço chá!”
(Lady Jane em O Mistério de Irma Vap)
Sim, senhores! Venho informá-los neste cappuccino de hoje (capuccino sim porque hoje estou sem a menor condição de degustar uma dose de café forte) para avisar que ela voltou depois de 11 anos assombrando os palcos com tanto sucesso para invadir as telas de cinema de todo o Brasil e quem sabe de alguns cantos do mundo! E exatamente 20 anos depois de lançar seu feitiço pelos palcos brasileiros pela primeira vez!
Mas “ela quem?!” – é o que vocês devem perguntando... Mr. Simon refere-se à Irma Vap, ou mais precisamente ao filme Irma Vap: o retorno, que é baseado no texto teatral O Mistério de Irma Vap, escrito pelo dramaturgo norte-americano Charles Ludlan e estrelada em recantos tupiniquins por dois monstros do teatro brasileiro: Marco Nanini e Ney Latorraca. Ah, sim! Antes não posso esquecer de mencionar que a direção da montagem brasileira foi de Marília Pêra (outro monstro!).
Enganam-se todos aqueles que pensam que irão vivenciar a catarse coletiva da peça que ficou mais de 10 anos em cartaz e que até entrou para o livro Guiness por ser a peça que em cartaz com o mesmo elenco por mais tempo (adoraria ser um pernilongo para poder espiar o camarim e os bastidores dessa montagem só para ver como era a convivência dos grandes atores por debaixo das cortinas, rsrs). As frenéticas mudanças de roupa (54 ao todo e muitas em menos de um minuto!) dos astros e as mirabolantes tiradas cômicas do texto deram lugar a um roteiro original baseado na peça de Ludlan (e não um mero roteiro adaptado, termo técnico que deixa esse povaréu de cinema em chilique!), com mais personagens, trazendo uma nova dimensão à trama protagonizada por Nanini e Latorraca.
Tudo começa com a morte de um produtor teatral em conseqüência de um retumbante fracasso de crítica e público: seu sócio, determinado em fazer justiça, decide remontar o maior sucesso que ambos tiveram até então, O Mistério de Irma Vap! Com isso, todos se mobilizam na tentativa de tentar “reviver” o fenômeno escalando um novo elenco e buscando a permissão para remontar o texto.
Dentre as novas personagens do filme de Carla Camuratti, destaca-se a “vilã” Cleide, com mais uma atuação brilhante de Nanini. As caras, bocas e chiliques que ele nos brinda são tão engraçadas que já valem o exorbitante preço do ingresso – ponto para Nanini! Odete, a mãe interpretada por Latorraca (uma breve semelhança com o antológico personagem “Barbosa”, da saudosa TV Pirata!), também merece risadas do público (a seqüência em que ela assiste o programa de sexo de Sue Johanson é definitivamente hilário!) – ponto para Latorraca!
É adorável como os atores brincam o tempo todo com as esferas dos gêneros em cena: eles vão do masculino ao feminino com uma naturalidade de impressionar até os atores mais experientes... Ponto para os dois, visto que este é o maior desafio para um grande ator, viver uma personagem feminina na ficção sem que ela seja uma drag queen completamente estilizada ou simplesmente uma bicha louca ensandecida – não que a personagem de Nanini não tenha tamanhos elementos grotescos, mas ele encara este desafio com total naturalidade!
O roteiro (o elemento mais fraco do filme, no meu ver) é o que deixa a desejar aos espectadores mais exigentes em determinados momentos... Repleto de referências a clássicos da sétima arte, com destaque para What ever happened to Baby Jane?, com Bette Davis e Joan Crawford (Lembram-se da antológica cena do atropelamento? Sim esta cena é relida por Carla Camuratti em Irma Vap!), o texto é salvo pelo timing de Nanini e Latorraca, que com suas brilhantes atuações salvaram a pátria do roteiro adaptado...
Li recentemente que os atores foram aplaudidos de pé por mais de 10 minutos na première do filme em um cinema do Rio de Janeiro no início de abril, o que não deixa de ser merecido. Afinal, o exercício dramatúrgico comandado por Carla Camuratti foge dos clichês baratos da comédia altamente visíveis nos enfadonhos programas humorísticos de sábado à noite. Ponto para Camuratti! Graças a sua direção, Irma Vap: o retorno é um meio de que todas as gerações não se esqueçam deste grande furacão causado pela antológica montagem de Marco Nanini e Ney Latorraca. Num país que se esquece de seus feitos históricos, conforme nos atesta Latorraca*, é uma esperança (além de um grande prazer, lógico!) ver que nem tudo se perde nos reinos globais do cinema. Por isso, não resistam ao alarme e vão ao cinema garantir as suas boas risadas!
* A afirmação de Ney Latorraca pode ser vista pelos leitores no seguinte endereço:
http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?ID=11&cd_news=12158
Enviado por Mr. Simon