quarta-feira, abril 12, 2006

A PELOTA

No princípio era o capotão arredondado, o retângulo de terra batida, e os paus de madeira que se tornariam os guardiões de alegrias furtivas...Correu o cronômetro em dois tempos de acréscimos taquicardíacos. E ventanias, enegrecimentos, nevoeiros, solões, relâmpagos, vulcões d´água, lamaçais, e muitas redes...Brotou um capim incerto, depois um matagal esburacado, daí o gramado verde, tapete com morrinhos em áreas de artilharia... Desenharam-se linhas de cal, tinta, brancas determinações de espaço; ergueram-se estandartes e brasões, bandeiras; levantaram-se arquiteturas onipotentes, robustas, infernais; rabiscaram regulamentos eternamente discutíveis; rixas e rivalidades formaram-se enquanto as cores tomavam partido numa batalha de bombas e rojões e torpedos, dantescos; e nasceram pra sempre as agremiações, os times, as equipes, os universos de sofrimento e apaixonamento instantâneo... O mundo bolou-se!

Há mais de um século, toda semana, todos os dias, em algum canto de terra, capim, mato, concreto, piche ou rincão, esquadrões se definham em defesa e ataque rumo à desmistificação do adversário. São pelejas de suores e sangramentos, musculaturas e estiramentos, deslizamentos, carrinhos pela esquerda, e cotovelos que sobram no ar, no supercílio. Uma glória e muitas aviltações... Compõe magnificências e desilusões, suspiros e rouquidões, lágrimas, sorriso, e mais lágrimas... Perdem-se joelhos, rumos, títulos e campeonatos. Ganham-se engasgos... O sideral de magias sem truques.

A pelota é a bala e a bazuca: o ardil dessa várzea de vida!

Enquanto houver café neste bule, ou semente de cacau nas veias, tecerei narrações e pitacos na canela sobre o que acontece no mundo redondo da rechonchuda. O clima é de queda de serpentina, papel picado na sarjeta, festins em fins... Cabou-se o respirar das disputas estaduais: desobedeceram jejuns, reluziu estrela solitária, apunhalada azul no caldeirão vermelho, quebra de invencibilidade, e mais de dezena de pólvoras nortistas, centristas, sulistas e nordestinas... Um pré-aquecimento de gala, de efemérides. O que está é no porvir, o doravante do próximo desespero, bem mais intenso. Porque é sempre um novo começo...

Um a Mais: esta é uma coluna condenada. Assombrada por mortos, e atormentada por espíritos, fantasmas e almas alvas. O conduzir será trôpego, mas audacioso. Viajará pelas laterais trazendo confins de inflexões. E cumulações no invólucro, espancado por petardos e tristezas no travessão.


Enviado por Rufus Melancólico