sábado, abril 22, 2006

FRAGMENTOS

Hey, você!

Você sabe que trem eu pego para ir àquele lugar onde toca Cat Stevens toda tarde antes da hora do café?

É aquele lugar aonde meu pai chegava em casa mais cedo e me abraçava forte até perder o ar.

Ele sempre me dava bronca porque eu mergulhava no chão cheio de sabão em pó até ralar meu joelho todo e, mesmo assim, dava risada do meu sorriso banguela.

Tenho certeza que é lá que vive aquele ET que me observava pelas frestas da janela enquanto eu dormia. Ele, de velhinho, deve estar banguela como eu fui.

Lembro que o cabeçudo ficava me observando enquanto eu tentava lembrar onde fica o Cruzeiro do Sul. Eu sempre via vários dele lá em cima, de diferentes tamanhos, mas nunca vi mais de um Cruzeiro do Sul no mapa do céu da Superinteressante.

Eu falava com esse ET de madrugada, quando perdia o sono por causa do tick tack do meu relógio rosa. Nunca gostei daquele relógio rosa, minha mãe que escolheu.

Ah! Até os meus nove anos, eu também tive um chip atrás da minha orelha esquerda, mas acho que o ET tirou quando foi embora da minha janela. Esse chip me fazia ver a borda riscadinha de amarelo que enfeita o contorno das pessoas quando elas sorriem. Era fantástico! Só nunca entendi porque elas não podiam ficar amarelinhas o tempo todo.

Ah, esse lugar...

Tenho tantas saudades! Não volto lá desde os meus 10 anos, quando minha mãe me buscou na Elba preta cheia de adesivos do meu pai para me levar ao colégio. Mudei de casa e amigos naqueles 15 minutos e ainda não achei o caminho de volta.

Enviado por Anne.