Bóris era um gato de rua, sem raça definida e idade desconhecida.
Bóris não caçava passarinho. Certa vez ouviu uma história sobre uns pássaros gripados que vinham do Norte. A partir daí, seu instinto de sobrevivência falou mais forte e decidiu parar com esse hábito. Soube que nenhum amigo gato caçava mais passarinhos!
Bóris se alimentava de restos. Mas, era muito desconfiado, pois já gastara duas de suas sete vidas se recuperando de envenenamentos. De vez em quando, uma senhora com cabelinhos brancos lhe dava um alimento que os humanos chamavam de ração. Achava gostoso e matava a fome. Além disso, sabia que, esse alimento, vindo dessa senhora, poderia comer sem receios.
Tempos atrás, Bóris tinha um amigo, de outra espécie, chamado Fred. Seus amigos gatos achavam estranho aquele relacionamento, afinal, Fred era um cachorro! Fred o protegia dos perigos da rua, brincava com Bóris e o deixava dormir aconchegado em sua barriga. Bóris se sentia muito seguro perto de Fred.
Os outros gatos diziam que Bóris renegava a raça. Deveria ser independente, dono de seu próprio nariz. “Onde já se viu andar em ‘bando’ e ainda mais com um cachorro?”, eles diziam. Mas, Bóris não ligava!
Fred e Bóris, davam uns rolés pelo bairro e viam gatos e cachorros sendo tratados à “pão de ló”, embora eles literalmente nem sabiam o que era isso. Observavam gatinhos no colo de seus donos, ronronando de alegria. Tentavam imaginar como seriam suas vidas nesses lares, fora das ruas. Um tempo depois, essa fantasia não importava mais, porque Fred e Bóris tinham um ao outro.
Certo dia, Bóris viu parar um carro. Mal ele sabia que este evento o mudaria para sempre. Observou outros cachorros dentro do carro. E tudo aconteceu tão rápido! Fred, jogado ao chão, se contorcia em desespero tentando se desvencilhar daquelas redes. Todo esforço era em vão. E então, seus olhares se encontraram, em despedida. Bóris nada pôde fazer!
E Fred se foi.
Seus amigos gatos disseram que Fred viraria sabão. Bóris, em angústia, subiu mais alto que pôde, no muro de uma casa abandonada e viu o veículo cada vez mais longe até sumir de sua vista. E então, cabisbaixo, chorou como nunca havia chorado em sua vida.
A partir desse dia, Bóris se isolou. Seus momentos de alegria se resumiam aos carinhos dados pela velha senhora que o alimentava fisica e emocionalmente, o suficiente para sentir que ainda havia um sopro de vida naquele corpo. E assim ia sobrevivendo dia após dia, contando as vidas que ainda lhe restavam.
Boris era um gato de rua e vivia escondido no mato. Num mato sem cachorro.
Enviado por Joy