domingo, agosto 27, 2006

Vaso

Vaso da porra!... Ele falou comigo... Maldito... Me contou uma história que eu não queria ouvir... Berrava que era uma imitação barata de merda, mas mesmo assim lindo... e era lindo o danado... Contou-me aquela velha história, confome a qual ilustrava a cultura de um povo dizimado pelo homem branco colonizador... E eu lá vou me interessar pela história alheia? Por uma identidade que não é minha... Eu sei, eu sei... na verdade a história não é alheia e a porra da identidade também é minha... Mas, não quero ouvir... não quero pensar... quero apenas sentir... quero chorar e doer... quero um corpo doído, que sangra e fede sem cessar... quero a angústia do sentir e não a do pensar... quero as grandes questões ao mar e as tradições de pensamento na sarjeta, recebendo as lambidas de um cão impregnado de sarna, fétido de doenças, tomado pela tosse e pelo pigarro... quero sentir o pior escarro, o desdém de todos, o nojo dos homens pela minha cama, a repulsa das mulheres pela minha companhia... quero o fio cego de um caco de vidro cortando minha carne vagarosamente, fazendo-a arder de cansaço e fadiga, arrancando-lhe a vida e o ânimo... aí, sim, quem sabe, poderei, mais adequadamente e de fato preparada para entender, ouvir a história da porra do vaso bonito, ganhado como presente e feito mimo de surperstição...

Miranda Belvedere