Olhos negros e sem expressão... Noite após noite, seu corpo se pôs em cima do meu, mexeu junto com o meu, interligado ao meu. Em cada uma dessas noites beijei e suguei com afinco e dedicação seus lábios, sempre de olhos abertos, para não desviar os meus do dele e nada vislumbrei. Eram olhos opacos, sem mensagens escondidas. Olhos de quem nada procura. Olhos de quem já não espera mais... olhos fixos em lugar nenhum, incapazes de expressar perplexidade, admiração ou paixão... enquanto seu corpo parecia devorar com pressa redobrada toda a extensão da minha pele branca e frágil, seu olhos não diziam nada... ainda que seu corpo se apropriasse da minha carne, dizendo-lhe que meu sangue o apetecia, que meu cheiro o estimulava e que era o meu ânimo que ele queria domar, os olhos permaneciam distantes, quase imaculados, quase límpidos; mas, mesmo a lacuna para a qual eles apontavam não levavam a universo nenhum, a emoção nenhuma; apenas ao mergulho profundo em um mundo de olhos negros, sem fim, sem limites, sem fronteiras, sem amor e de libido mecânica...