Na última (que foi também a primeira) vez que escrevi um texto neste cafeinado blog, o texto gerou um comentário que me instigou a pensar e a escrever este outro, não em resposta ao comentário, mas em razão dele. O livro do Gênesis, primeiro da Bíblia, em seu primeiro capítulo descreve a criação do mundo, dos reinos mineral, vegetal e animal, e dos seres humanos. E a narrativa explicita o processo pelo qual Deus resolve criar, primeiro o homem (sinal de alguma hierarquia?) e depois, segunda algumas versões vendo que faltava algo (Deus tem muito bom senso), Deus resolve criar a mulher, de uma parte da costela de Adão. Não podemos negar que a narrativa bíblica situa a mulher em função derivativa com relação ao homem. Até aqui essa história já alimentou acirrados debates sexistas (a Bíblia, apesar de Darwin, representa uma forte referência na estrutura do pensamento ocidental), especialmente no último século, onde ao menos se conquistou o direito de discutir o que até então permanecia indiscutivelmente definido e definitivo. E durante muito tempo, e ainda hoje, falou-se sobre a igualdade entre sexos, o que representa um erro ontológico e semântico, pois que ao meu ver não há como existir igualdade entre coisas ou questões tão desiguais. Em verdade, em se tratando de luta e reivindicação, muito mais correto e produtivo seria pleitear a desigualdade dos sexos, adotando o princípio elaborado por Aristóteles (“Ética a Nicômano”) de tratar os desiguais de maneira desigual, como única forma de se atingir (ou ao menos se aproximar) da almejada igualdade, pressuposto de um estado de justiça e isonomia. Assim, aos homens o que é dos homens e às mulheres, o que é das mulheres. Mas isso, dito dessa forma, assevera a persistência de uma questão que me incomoda: porque o sexo tem que ser tão determinante? Antes de ser masculino ou feminino, todo indivíduo se define por ser uma pessoa humana, já que até a sétima semana após a fertilização o embrião não tem definição de sexo. E mesmo após, é “apenas” (enfatizando a simplicidade biológica que determina o sexo) um cromossomo, o “Y” , presente apenas nos homens, que faz estabelece essa diferenciação. Mas sabemos que, funções e processos biológicos à parte, o que gera e sustenta as diferenças que alimentam as querelas sexistas são questões culturais, as questões de gênero. Assim, de macho e fêmea passa-se à masculino e feminino, “coisas de homem e coisas de mulher”. E aí está preparado o terreno para a “guerra dos sexos”, um arsenal de piadas e metáforas, formadoras das estruturas cognitiva, emocional e afetiva da vida de toda pessoa, com representações, preconceitos, valores e todo um imaginário dual, binomial e maniqueísta que só faz distanciar homens e mulheres, sobrepujando a dimensão humana de ambos, o que de mais importante os une. E tome discussão sobre supremacia de homens ou mulheres!
Esse texto não é panfletário, pelos direitos das mulheres, pela justa desigualdade dos sexos ou coisa assim. Em verdade, esse é o tipo de discussão que julgo mais do que infrutífera, já ultrapassada. É claro que não é possível esquecer anos e anos de opressão e submissão de tantas mulheres e mais difícil ainda conviver com o fato de que muitas mulheres ainda recebem remuneração menor do que a de homens desempenhando as mesmas funções. Essas distorções, incontestavelmente injustas e injustificáveis são, não só retrógradas, como também inaceitáveis. E eu acredito sim no valor, na força e na importância dos movimentos de luta e mobilização que têm transformado a sociedade ao longo dos anos. Mas ainda assim eu me permito crer que chegará, não só pela mobilização, mas também pela conscientização de todos, seres humanos, o dia, não muito distante (e que eu poderei vivenciar), em que não será mais preciso reivindicar nada, pois tão claro quanto o fato de que o mundo é formado pela diversidade de existências, será a consciência de que os seres humanos possuem muito mais semelhanças do que diferenças e que o sexo e gênero a que cada pessoa pertence não é mais importante do que o fato dela ser humana, demasiado humana. Sim, sou otimista, idealista e, conforme afirmou Marx “tudo o que é humano me interessa”, muito mais do que o “X” ou “Y” da questão.
Esse texto não é panfletário, pelos direitos das mulheres, pela justa desigualdade dos sexos ou coisa assim. Em verdade, esse é o tipo de discussão que julgo mais do que infrutífera, já ultrapassada. É claro que não é possível esquecer anos e anos de opressão e submissão de tantas mulheres e mais difícil ainda conviver com o fato de que muitas mulheres ainda recebem remuneração menor do que a de homens desempenhando as mesmas funções. Essas distorções, incontestavelmente injustas e injustificáveis são, não só retrógradas, como também inaceitáveis. E eu acredito sim no valor, na força e na importância dos movimentos de luta e mobilização que têm transformado a sociedade ao longo dos anos. Mas ainda assim eu me permito crer que chegará, não só pela mobilização, mas também pela conscientização de todos, seres humanos, o dia, não muito distante (e que eu poderei vivenciar), em que não será mais preciso reivindicar nada, pois tão claro quanto o fato de que o mundo é formado pela diversidade de existências, será a consciência de que os seres humanos possuem muito mais semelhanças do que diferenças e que o sexo e gênero a que cada pessoa pertence não é mais importante do que o fato dela ser humana, demasiado humana. Sim, sou otimista, idealista e, conforme afirmou Marx “tudo o que é humano me interessa”, muito mais do que o “X” ou “Y” da questão.