"Desculpe, moça. Eu tenho medo. Só converso com você, sabe. Eu tenho medo de cair de depressão (sic) de novo..."
Ouvi essa frase de uma jovem, bonita, com 18 anos. Ela é atendente em uma lanchonete mas não sabe muito bem qual carreira seguir.
Enquanto leio os jornais e tomo o meu café ela vem sorrateiramente ao meu lado e sorri. "Uma média, né?". Eu aceno a cabeça. E ela traz.
"Gosto tanto de você". Eu também gosto dela. Naqueles momentos silênciosos da manhã seu rosto juvenil é um deleite.
Sexta-feira sua avó morreu. Encostou ao meu lado, desabafou. Chorou. E disse que não confiava em ninguém no mundo, tinha muitos amigos mas ninguém, e que eu, justo eu, era a única pessoa ali digna de confiança.
"Eu não quero mais entrar em depressão!". Com 18 anos? Tentei compreender. "Linda, pode ser o momento. Ninguém confia em ninguém, vivemos fechados, mal olhamos para o lado, estamos nos afastando um dos outros." . Meneou a cabeça. "Eu não confio em ninguém."
Hoje possuímos uma facilidade de comunicação fantásticas, meios de transporte, TV, internet, o caralho a quatro. Mas nos enfiamos tanto no virtual que esquecemos do pessoal. Esbarramos nas pessoas e não vemos. Não existe bom dia. Sobra desconfiança. Pululam depressões.
Vivemos mais e nem por isso apreciamos a vida. Estamos sempre apressados, correndo, postando, cumprindo prazos, trabalhando muito, ganhando pouco...
Que vida é essa que impomos a nós mesmos?
Sinceramente
JJ