São Paulo, 02 de Setembro de 2013.
Construir-se e reconstruir-se, algo muito louco. Muito. Um dia você acorda se sentindo uma merda. Em outros, a mensageira do Apocalipse! Mau da bipolaridade, mas meio que me acostumei. Uma bomba ambulante.
Hoje acordei diferente, esquecendo muito de você. Aliás, quem era você? 20 anos, uma menina. Deixei a minha vida nas mãos de uma menina.
Aliás, engraçado agora, de fora, entender isso. Como uma menina poderia agregar algo a minha vida? Inteligente, bonita. Ok. Mas é pouco. Migalhas para o que posso ser na vida, uma caricatura de mim mesma com uma mini-me do meu lado. Valha-me Deus!
Você voltou há uma semana, e mal lembro dos nossos encontros. Estou ensimesmada, procurando o melhor de mim. Desculpe, aliás, foi um erro. Nós duas fomos um erro.
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Acho que essa bipolaridade veio desde pequena. Vontade de revolucionar 24h, talvez?
......
Nessas minhas caçadas achei-me agnóstica, mais para atéia, e feminista. O que antes era dúvida vira uma certeza. Uma escolha puxou a outra, aliás. Ateus são mais machistas do que religiosos, e de limitações eu já estou cheia!
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Abaixo segue um texto que garimpei por aí. É de 2011, de uma blogueira americana sobre o feminismo. Interessante figurar no texto Richard Dawnkis, cultuado por tantos como gênio. Poor babies...
"Feminismo, um delírio?
A Ilusão do Privilégio
(link original:
The Privilege Delusion)
Texto de Rebecca Watson e tradução da @fadamariposa
Bem,
PZ Myers,
Jen McCreight,
Phil Plait,
Amanda Marcotte,
Greg Laden,
Melissa McEwan
e outros já disseram isso, mas achei que deveria postar isto pra
constar: sim, Richard Dawkins acredita que eu deveria ser uma boa menina
e calar a boca sobre ser objetificada sexualmente, porque isso não o
incomoda. Obrigada, homem branco, velho, heterossexual e rico!
Quando comecei este site, eu não me chamava de feminista. Eu tinha uma
vaga idéia de que o feminismo era uma coisa boa, mas era algo para
outras pessoas se preocuparem, não eu. Eu estava vivendo num tempo e
cultura que transcenderam a necessidade de feminismo, porque no meu
mundo, todos éramos ateus racionais, que abandonaram doutrinas
relogiosas, então eu poderia fazer piadas de estupro livremente sem medo
de machucar alguém que tenha sido estuprada.
Então eu fiz um comentário sobre como poderia haver mais mulheres na
comunidade, e as respostas de meus companheiros céticos e ateus variaram
de “
Não, elas não são lógicas como nós“, até “
Sim, aí podemos comê-las!“. Isso pareceu esquisito.
Então eu comecei a falar mais sobre mulheres. Sobre como elas não são
idiotas. Sobre como elas podem pensar logicamente, mas talvez existam
outras pressões sociais mantendo-as afastadas de nossa mensagem, como a
maneira que dizemos às mulheres para serem quietas e educadas e não
questionar o que lhes é dito. Eu falei sobre como as pessoas precisam de
modelos a seguir, e existem tão poucas mulheres em cena, nestes
eventos.
E eu recebi mensagens de mulheres me contando como elas tinham
dificuldades em comparecer a reuniões em pubs e outros eventos, porque
elas se sentiam desconfortáveis num lugar cheio de homens. Elas me
contaram sobre como elas eram cantadas constantemente e isso as
afastava. Eu não entendi bem, na época, porque eu não me importava em
ser cantada. Mas eu reconheci o direito delas de se sentirem daquela
forma, e comecei a sugerir aos homens para que talvez relaxassem um
pouco e não tentassem comer toda mulher que entrasse pela porta. Talvez
eles pudessem esperar que ela fizesse o primeiro movimento, em todo
caso.
E então, durante os últimos anos, com o crescimento da audência do
Skepchick e do SGU, eu recebi mais e mais mensagens de homens me dizendo
o que eles queriam fazer comigo, sexualmente. Mais e mais homens me
tocando sem permissão em conferências. Mais e mais ameaças de estupro
daqueles que não concordavam comigo, mesmo aqueles que se consideravam
céticos e ateus. Mais e mais gente me dizendo pra calar a boca e voltar a
falar do Pé Grande e outros assuntos mais importantes.
E eu disse não. Eu aprendi mais sobre o feminismo moderno e como seus
objetivos tão claramente coincidiam com os objetivos dos humanistas, e
céticos, e secularistas, e eu escrevi e falei mais sobre as questões que
coincidiam, porque tão poucos outros céticos estavam fazendo isto.
E aqui estamos nós hoje, sou uma feminista, porque céticos e ateus me
tornaram uma. Toda vez que eu menciono, mesmo delicadamente, uma
possível questão de misoginia ou objetificação em nossa comunidade, a
resposta que recebo mostra que o problema é muito pior do que eu pensei,
e então eu fui ficando com mais raiva. Eu sabia que, eventualmente, eu
iria atingir alguma espécie de singularidade feminista, em que eu iria
explodir e em meu lugar surgiria algum herói tipo Capitão Planeta, mas
para feministas. Acredito que este dia está próximo.
Vocês podem lembrar de quando
relatei um incidente
em que recebi uma cantada, e falei, “Caras, não façam isso.” Verdade,
foi o que eu falei. Eu não disse que o sexo deveria deixar de existir,
não acusei o homem da história de me estuprar. Eu não falei que todos os
homens são monstros. Eu falei: “Caras, não façam isso.” Ao que
Richard Dawkins respondeu:
Querida Muslina (*NT – corruptela de “Muçulmana”: termo que
dependendo de como ou onde é usado, pode ou não ser considerado
depreciativo, como “Nigger”)
Pare de se lamentar. Sim, sim, eu sei que você teve sua genitália
mutilada com uma lâmina de barbear, e… *bocejo*… não me diga de novo…
eu sei que você não tem permissão pra dirigir um carro, e você não pode
sair de casa sem estar acompanhada por um parente do sexo masculino, e
seu marido tem permissão pra te bater, e você vai ser apedrejada até a
morte se cometer adultério, blá blá blá. Mas pare de reclamar. Pense no
sofrimento de suas pobres irmãs americanas.
Apenas esta semana eu ouvi de uma, ela se chama Skep”chick”, e sabe o
que aconteceu com ela? Um homem num elevador de hotel a convidou para
ir ao quarto dele para um café. Não estou exagerando. Ele fez isso
mesmo. Ele a convidou para tomar café em seu quarto. Claro que ela disse
não, e claro que ele não encostou um dedo nela, mas mesmo assim…
E você, muçulmana, pensa que pode reclamar de misoginia! Pelamordedeus, cresça, ou pelo menos seja mais durona.
Richard
Isso é especialmente interessante, já que Richard Dawkins sentou ao meu lado em Dublin e
me ouviu falar sobre as ameaças de estupro que eu recebo. Esta aqui eu guardo como screenshot para usar de exemplo para pessoas que não entendem:
Tradução da última frase: “
honestamente, digo HONESTAMENTE… vc merece ser estuprada e torturada e morta, juro que eu iria rir se pudesse assistir”
Este comentário e muitos outros parecidos foram enviados a mim em
resposta a um vídeo que fiz sobre os horrores da mutilação genital
feminina, que, aliás, é uma prática cultural, e não apenas relegada a
mulheres muçulmanas. Falei muito sobre o assunto, e as piores mensagens
de ódio de ateus são a respeito disto.
Então, ter as minhas preocupações – e as preocupações de outras
mulheres que sobreviveram a estupros e assédios sexuais –
desconsideradas graças a um homem branco e rico que as compara com a
situação de mulheres que são mutiladas, é um insulto a todas nós.
Feministas do ocidente têm sido fortes aliadas das mulheres que são
brutalizadas em outros lugares, e elas fizeram muito mais do que Richard
Dawkins em se tratando de fazer uma diferença em suas vidas.
Este não foi o fim, é claro. Dawkins continuou, comparando minha
experiência com sua frustração em estar em um elevador com uma pessoa
mascando chiclete (presumivelmente ele deve ter sido abordado pela tal
pessoa, que então esfregou chiclete em seu cabelo branco e macio). Você
pode ler todos os seus comentários no Shakesville ou em algum dos outros
sites linkados acima.
Este final de semana, quando eu li os comentários de Dawkins, eu
fiquei, simplesmente, sem esperanças. Eu já havia previsto que o futuro
de seu movimento desconsideraria estes assuntos, e agora eu estava
presenciando o mesmo no presente.
Qual o sentido em continuar?
É aí que você entra. Você, querido leitor, tem sido incrível. Você
postou em resposta a Dawkins no tópico sobre a Faríngula, bravamente
batalhando ele e as hordas de gente privilegiada sem noção que não
entendiam. Você me enviou e-mails me dizendo para continuar falando.
Você se apresentou na SkepchikCon e me disse o quanto adorava o
SkepChick e o SGU. Você escreveu posts de blogs e fez vídeos e foi foda,
e me fez perceber que
Dawkins não é o presente. Ele é o passado.
Então, muitos de vocês verbalizaram o que eu tenho pensado: que esta
pessoa, que eu sempre admirei por sua inteligência e compaixão, não se
importa com minhas experiências como mulher atéia, e consequentemente
não será mais recompensado com meu dinheiro, admiração ou atenção. Eu
não vou mais recomendar seus livros, comprá-los como presentes, ou para
minha própria biblioteca. Não vou comparecer em suas leituras ou
recomendar o mesmo a outras pessoas. Existem tantos grandes cientistas e
pensadores por aí, que não acho que minha lista de leitura será
prejudicada.
A despeito do fato de eu já ter visto centenas de comentários
daqueles dentre vocês que planejam fazer o mesmo, estou certa de que
Dawkins continuará a ser podre de rico até o fim de seus dias. Mas
aqueles entre nós que são humanistas e feministas encontrarão novas e
melhores vozes para promover e inspirar, e Dawkins será deixado sozinho,
para combater a terrível injustiça de ficar em elevadores com gente
mascando chiclete.
Rebecca Watson
Rebecca lidera um grupo de ativistas céticas no site Skepchick.org e
aparece no podcast semanal do Skeptics’ Guide do the Universe. Ela viaja
o mundo promovendo debates divertidos sobre ciência, ateísmo, feminismo
e ceticismo. Há atualmente um asteróide com seu nome orbitando o Sol.
Você pode seguir todos seus fascinantes passos no Twitter:
@rebeccawatson."
Bem, o próprio Richard viu a besteira que fez e respondeu. Pendindo desculpas e agredindo, claro:
Bem, por hoje é só. Agora só na próxima segunda. E o diário vai mudar também.
J.J., bipolar, mudou de idéia e toda segunda-feira vai postar não sobre dois amores, e sim sobre o a si mesma.