quinta-feira, setembro 07, 2006

A Viagem de Chihiro


É possível alguém não gostar deste filme? Creio que sim. Então aviso: se você não tem sensibilidade e não gosta muito de pensar nem chego perto. Vai odiar o filme, tachá-lo de "fábula boba" e que prefere A Era do Gelo. Ok, sem problemas. Para mim, ambos são excelentes, mas gêneros COMPLETAMENTE diferentes. O segundo, pura diversão. O primeiro, diversão e pensamentos. Muitos.

Como acabei de ler duas críticas desfavoráveis a Chihiro (leia aqui) , posto aqui a minha crítica sobre as críticas:
"Fiquei impressionada com duas críticas abaixo sobre o filme. Então, vá lá minha observação:
Se você não gosta de analisar filmes, é insensível e gosta de chegar aos finalmente (sic) sem churumelas, não assista o filme. Está longe de ser uma animação bobinha, e não ganhou o Urso de Ouro à toa.
Na realidade, o filme é uma dura crítica as religiões e deuses, aos que se consideram maiores por acreditar neles, aos que dependem de suas vontades e quereres.
Para um tolo, os seus pais virarem porcos não tem significado. Mas tem. Para as religiões, os deuses são deuses. Os homens, porcos. Porque comem, bebem, se amam, se rendem aos "prazeres da carne". Porém, os deuses se deleitam em banhos com ervas, o que é uma contradição.
Um dos deuses a receber este banho está cheio de lama. Ao receber o banho, lhe é retirado tudo o que existe nele: objetos feitos por homens. Foi um dos banhos mais difíceis, mas a única pessoa capaz de fazê-lo foi... Um ser humano! E um dos menores: Chihiro.

Ao entrar neste mundo novo, rodeado por deuses, Chihiro perde o que é mais importante em sua vida: seu nome. Outra crítica interessante: quando o assunto é religião, muitas pessoas esquecem quem realmente são em nome de outro. Um padre, pastor ou Deus.
Enfim, se vai assistir este filme, saiba que verá tudo, menos tolices. A não ser que seja um tolo e não consiga enxergar além disso."

Se vc quiser saber mais sobre o filme veja este site: http://www.junior.te.pt/chihiro/viagem_chihiro.html

sábado, setembro 02, 2006

Racismo no Brasil? Magina!

Ontem a noite estava no ponto de ônibus. Cansada. A chuva não parava, intermitente molhava minha roupa, meu sapato... A cidade inteira alagada, trânsito, e nem sinal do maledeto aparecer..

Eis que de longe escuto...

-Jussara?

-Sim... Meu Deus, não acredito! Pedro!

-Como está a senhorita?

-Muito, muito bem! Não acredito que estou reencontrando você! Meu Deus! Como você está?

-Na mesma. Exatamente na mesma. Não quero entrar em detalhes. Dói demais. Por favor, não.

Choro agora o que não consegui no momento.

Como assim nada? Você terminou o colegial e... Nada?

Nada. Mas um dia a gente conversa. Eu sempre me viro.

Pedro é uma pessoa extramamente inteligente. Bilingue, auto-didata. Fala espanhol perfeitamente, o danado. Organizado. E negro.

O que poderia ser sinônimo de orgulho virou motivo de sina em sua vida. Não lhe foi ofertado nem um estágio.

Corta.

Há cinco anos atrás estava em um cargo de alto nível, chefia. Um dia parei, olhei ao redor... Não haviam negros. Nenhum. Tentei lembrar se já havia feito isso outra vez...

Corta.

10 anos atrás. Faculdade. Na minha classe havia uma garota negra. Em cinco anos.

Corta.

Esta única garota negra hoje é dona de casa, não por opção. Classe média baixa, um filho, tentando viver.

Corta.

Pedro está na minha frente. Meu Deus... Como!

Ele morava numa favela em São Paulo, um dia fui ver sua casa. Chão de terra, poucos móveis, água na base da gambiarra. Por esses motivos que só o ser humano consegue entender quando vai fundo na sua natureza, ele sobreviveu. Seu "bairro" seria um prato cheio para qualquer naturalista. Um local sitiado, cheio de medos e insegurança. Mesmo assim, ele é uma boa pessoa. Não me espantaria se não fosse.

Corta.

Noventa por cento das pessoas onde trabalho, hoje, na parte da limpeza, ou são nordestinos, ou negros. Idem na segurança. E são migrantes ou afro-descendentes com medo. Como quase nunca chegam a chefia, acostumam-se ao comando. E quando chegam esquecem ou muitas vezes tem consciência da situação. Agem como capataz, atendendo a demanda do patrão.

Corta.

Pedro está a minha frente. Seus olhos marejados, os meus também.
Algo deve ser feito. E eu vou fazer.

Postado por Jussara Justa